Conclusão
Refletindo sobre todos os dados e informação analisados chegamos então a algumas respostas à questão-problema: "Em que aspetos a mutilação genital feminina afeta o prazer sexual e a fertilidade?". Ao responder a esta pergunta é-nos também possível verificar a validade dos mitos apresentados na página inicial.
Sobre "Com a circuncisão o prazer sexual da mulher é eliminado, tornando-a menos propensa à infidelidade e à promiscuidade" sabemos agora que é um mito válido ou não para cuja discussão há que ter em conta diversos fatores: psicológicos, físicos, sociais e hormonais. O modo como a MGF influencia o prazer sexual da mulher depende acima de tudo do tipo de mutilação e das condições em que é efetuada. Mulheres mutiladas sexualmente poderão experimentar ou não a satisfação sexual consoante a forma como foram manipulados os seus órgãos genitais. No entanto, há ainda que ter em conta o facto de a origem do prazer sexual residir não só em fatores físicos, como também em fatores hormonais, estando envolvidas secreções endócrinas como as endorfinas e oxitocinas. Esta regulação hormonal está associada a consequências a nível físico (por exemplo, destruição nervosa) e psíquico (medo, timidez), que dificultam a preparação para a fase de excitação, sendo comprometida a produção das oxitocinas e endorfinas, responsáveis pela obtenção de prazer sexual.
Quanto à influência da MGF no homem, será que o seu prazer sexual é efetivamente potencializado com a prática da circuncisão feminina? Como agora sabemos, não, e a ideia de que "Quanto mais apertada ela é costurada, mais prazer ele tem" não passa de um mito que deve ser desmitificado, uma vez que na maior parte dos casos, a taxa de satisfação sexual é muito mais baixa entre homens casados com mulheres circuncidadas, principalmente infibuladas. Esta inibição explica-se, por exemplo, pela impotência, problemas psicológicos e úlceras devidas a dificuldades na penetração.
Por fim, podemos admitir ainda que, contrariamente ao que é acreditado pelos povos praticantes da MGF ("A circuncisão até melhora a fertilidade da mulher, pois uma mulher não circuncidada não será capaz de dar à luz"), a fertilidade nunca é melhorada pela MGF. Pelo contrário, a prática em questão poderá provocar infeções pélvicas originárias em obstruções do fluxo menstrual e/ou urinário. Essas infeções, desencadeando o bloqueio das Trompas de Falópio, têm como um dos efeitos a impossibilitação da fecundação e consequentemente a infertilidade.
Esperemos assim ter abordado o tema de forma clara, esclarecendo dúvidas relacionadas com mitos referentes tanto aos motivos pelos quais se pratica a circuncisão feminina, como aos efeitos que essas culturas pensam advir deste costume. E a conclusão máxima a que se chega é a de que não deixa de haver uma triste ironia inerente a este assunto: a mutilação genital feminina é praticada com uns intuitos, quandos os seus efeitos são outros, completamente opostos.